quinta-feira, 19 de junho de 2008

Ler é um prazer

"Era uma vez dois irmãos. Um era otimista, o outro, pessimista. Certa vez, no Natal, ao abrirem seus presentes, os meninos encontraram o seguinte: o pessimista tinha ganhado uma bicicleta linda, de dez marchas, moderna e sofisticada. O otimista, ao abrir a linda caixa que recebera, deparou-se com um monte de fezes de cavalo.
Disse então o pessimista:
- Viu? Ninguém gosta de mim. Agora, com certeza, mais cedo ou mais tarde, eu vou cair e quebrar a cabeça com essa bicicleta que corre tanto...
Enquanto isso, o otimista já saíra correndo para a rua, disparado, gritando:
- Cadê meu cavalinho? Cadê meu cavalinho que ganhei no Natal?"


Tânia Zagury

Descoberta velhinha de quatrocentos e oitenta anos

Coluna de Biologia

Talvez seja finalmente, sem sombra de dúvida, esta a pessoa mais velha do mundo. Dona Nhá Nhá completa este ano quatrocentos e oitenta primaveras. Cientistas do mundo inteiro vieram estudar o caso e se mostraram surpresos com a idade da anciã. Até então, o caso de longevidade mais extraordinário já encontrado era o de um pastor do Afeganistão que só comia coalhada podre e já tinha cento e vinte e três anos, no entanto sem a menor alegria de viver, talvez devido ao seu tipo de dieta. Testes de laboratório comprovaram realmente a idade de dona Nhá Nhá e o famoso cientista americano Frederick F. Frederock, especialista em geriatria, declarou: "É realmente espantoso. Pena que ela esteja morta."


Jô Soares

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Millôr Fernandes

Lições das coisas

Uma bola é o que rola.
Branco é o sem cor nenhuma.
Colo é o que a gente quer de noite, mas de dia o quintal é melhor.
Comida tem sempre demais no prato mas sobremesa nunca tem bastante.
Mosca é pra se matar com o jornal dobrado.

Verbos altamente irregulares

Eu dirijo bem; tu és cauteloso; ele é um barbeiro.
Eu nado; tu mergulhas; ele se afoga.
Eu enfrento as situações; tu tergiversas; ele é um covarde.

Informações absolutamente inúteis

As galinhas que engolem relógios de pulso não põem ovos na hora certa.
Os cavalos não apostam nos homens.
O cão é o melhor amigo do homem: o gato nem tanto.
Os egoístas vivem cheios de EUforia. Todas as outras pessoas vivem cheias de egoístas.

O Testamento

Um homem rico, sem filhos, sentindo-se morrer, pediu papel e caneta e escreveu assim:
"Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do mecânico nada aos pobres"
Não teve tempo de pontuar - morreu.
Eram quatro concorrentes. Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do bilhete:
"Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do mecânico. Nada aos pobres."
A irmã do morto chegou em seguida com outra cópia do testamento e pontuou assim:
"Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do mecânico. Nada aos pobres."
Apareceu o mecânico, pediu uma cópia do original e fez estas pontuações:
"Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do mecânico. Nada aos pobres."
Um juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade. Um deles, mais sabido, tomou outra cópia do testamento e pontuou deste modo:
"Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do mecânico? Nada. Aos pobres!"


Amaro Ventura e Roberto Augusto Soares Leite

Livros

Como eu sou muito esquecida, tenho que anotar os nomes dos livros que eu quero ler. A maioria, senão todos, é sobre mistério, assassinatos ou policiais.

LEMNISCATA - O ENIGMA DO RIO >> Pedro Drummond
A MESA VOADORA >> Luís Fernando Veríssimo
COMÉDIAS PARA SE LER NA ESCOLA >> Luís Fernando Veríssimo
O JARDIM DO DIABO >> Luís Fernando Veríssimo
ECHO PARK >> Michael Conelly
A MULHER MARCADA >> Hakan Nesser
O CEMITÉRIO >> Stephen King

Agatha Christie:
ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE
O CASO DOS DEZ NEGRINHOS
O ASSASSINATO DE ROGER ACKROYD
O MISTÉRIO DO TREM AZUL
O SEGREDO DE CHIMNEYS
O MISTÉRIO DOS SETE RELÓGIOS
CRIME NO VICARIATO
O MISTÉRIO DE SITTAFORD
A CASA DO PENHASCO
O CÃO DA MORTE
TREZE À MESA
MORTE NAS NUVENS
MORTE NO NILO
CARTAS NA MESA
MORTE NA MESOPOTÂMIA
ENCONTRO COM A MORTE
MORTE NA PRAIA
A MÃO MISTERIOSA
CIPRESTE TRISTE
M OU N?
HORA ZERO
CONVITE PARA UM HOMICÍDIO
MORTE NA RUA HICKORY
A EXTRAVAGÂNCIA DO MORTO
A TESTEMUNHA OCULAR DO CRIME
CAI O PANO

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Texto de Luis Fernando

"Eu já dei risada até a barriga doer,
já nadei até perder o fôlego,
já chorei até dormir e acordei
com o rosto desfigurado.
Já fiz cócegas no meu irmão,
já me queimei brincando com vela.
Eu já fiz bola de chiclete
e melequei todo o rosto,
já conversei com o espelho,
e até já brinquei de super man.
Já quis ser astronauta, violinista,
mágico, caçador
e trapezista.
Já me escondi atrás da cortina
e esqueci os pés para fora.
Já passei trote por telefone,
já tomei banho de chuva,
já roubei beijo.
Já fiz confidências pro melhor amigo,
já confundi sentimentos.
Peguei atalho errado e
continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da tigela
de bolo...
Já me machuquei
tirando espinha,
já chorei ouvindo música.
Já tentei esquecer algumas pessoas,
mas descobri que essas são
as mais difíceis de se
esquecer.
Já subi escondido no telhado
pra tentar pegar estrelas,
já subi em árvore pra roubar fruta,
já caí de bunda no chão.
Conheci a morte de perto,
e agora anseio por viver
cada momento.
Já fiz juras eternas,
já escrevi no muro da escola,
já chorei sentado no chão do banheiro,
já fugi de casa pra sempre,
e voltei no outro instante.
Já saí pra caminhar sem rumo,
sem nada na cabeça, ouvindo estrelas.
Já corri pra não deixar alguém chorando,
já fiquei sozinha no meio
de mil pessoas sentindo falta de uma só.
Já vi o pôr-do-sol alaranjado,
já me joguei na piscina sem vontade de voltar,
já olhei a cidade de cima
e mesmo assim não encontrei
meu lugar.
Já senti medo do escuro,
já tremi de nervoso,
já quase morri de amor,
mas nasci novamente pra ver
o sorriso de alguém especial.
Já apostei em correr descalço
na rua, já gritei de
felicidade, já roubei rosas num
jardim.
Já me apaixonei e achei que
era pra sempre...
Já deitei na grama de madrugada
e vi a lua virar sol,
já chorei por ver
amigos partindo, mas descobri que logo
chegam novos,
e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Foram tantas ás coisas feitas, momentos
fotografados pelas
lentes da emoção,
guardados num baú, chamado coração.
E agora um formulário me interroga, me encosta
na parede:
- Descreva-se
Essa pergunta ecoa no meu cérebro:
- Descrever-me, descrever-me...
Será que ser plantador
de sorrisos é uma boa descrição?
Não!!!
Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!"


Luis Fernando, meu amigo do Orkut...

Soneto da Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-la em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinícius de Morais

terça-feira, 10 de junho de 2008

Fernando Pessoa

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê tudo em cada coisa. Pões quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


Fernando Pessoa

Colombo

Se ainda pairavam dúvidas quanto à verdadeira origem de Colombo, hoje pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, que ele veio ao mundo na sua cidade natal, exatamente no dia do seu aniversário, que, aliás, era comemorado anualmente. Num ponto, todos os historiadores concordam: Colombo casou-se com sua mulher.
Além de exímio navegador, Colombo era homem de várias habilidades e foi perito em tudo aquilo que de melhor fazia. Registros da época narram, com detalhes, que sua memória era tão fantástica que ele conseguia se lembrar nitidamente de tudo aquilo que não esquecia. [...]


Jô Soares - Veja, 28/10/1992

Papo de índio

Veiu uns ômi di saia preta
cheiu di caixinha e pó branco
qui eles disserum qui chamava açucri
Aí eles falarum e nós fechamu a cara
depois eles arrepitirum e nós fechamu o corpo
Aí eles insistirum e nós comemu eles.


Chacal

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Especiais


Eunice, Renata (Papi), Hellen, Joyce (Cocozilda), Aline (Especial), Gabryella Maria (Gabydella), Tamires (Tatami) e Eu (Brunna).
Ahh, como eu queria voltar aos tempos de colégio e passar a manhã toda ao lado dessas meninas.

São a família que escolhi. Não existe amigas melhores que elas...

Amo vocês!!!

Circuito Fechado

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.


Ricardo Ramos




Esse cara fuma pouco, hem???

Notícias

CORREIO DO POVO - 27/9/73

Informações

Maria Joana Knijnick, solteira, procura pessoa do sexo oposto para fim de casamento. O interessado deve ser pessoa sensível, que goste de ouvir música, seja alegre, que goste de passear domingo de manhã, que goste de pescar, que goste de passear na relva úmida da manhã, que seja carinhoso, que sussurre aos meus ouvidos que me ama, que tenha bom humor, mas que também saiba chorar. Que saiba escutar o canto dos pássaros, que não se importe de dormir ao relento numa noite de luar, que saiba caminhar nas estrelas, que goste de tomar banho de chuva, que sonhe acordado e que goste muito do azul do céu. Prefere-se pessoa que saiba escutar os segredos de um riacho e que não ligue aos marulhos do mar; que goste de bife com arroz e feijão, mas que prefira peru com maçã, dá-se preferência a pessoa de pés quentes, que gostem de andar de barco, que gostem de amar e que não puxem as cobertas de noite. Não se exige que seja rico, de boa aparência, que entenda Kafka ou saiba consertar eletrodomésticos mas exige-se principalmente que goste de oferecer flores de vez em quando.
End.: Rua da Esperança, 43.


CORREIO DO POVO - 2/10/73

Informações

Maria Joana Knijnick, solteira, procura pessoa do sexo oposto para fim de casamento. O interessado deverá ser pessoa sensível e que tenha o hábito de oferecer flores.
End.: Rua da Esperança, 43.


CORREIO DO POVO - 10/10/73

Informações

Maria Joana Knijnick procura pessoa que a ame e goste de oferecer flores de vez em quando.
End.: Rua da Esperança, 43.


CORREIO DO POVO - 20/10/73

Informações

Maria Joana Knijnick pede que qualquer pessoa goste dela e que lhe mande flores.


CORREIO DO POVO - 14/11/73

Informações

A família da sempre lembrada Maria Joana Knijnick comunica o trágico desaparecimento daquele ente querido e convida os amigos para o ato de sepultamento. Pede-se não enviar flores.


Artur Oscar Lopes

domingo, 8 de junho de 2008

Prós e contras do chiclete

A Universidade de Northumbria, na Inglaterra, fez um experimento com 75 pessoas e descobriu que a mastigação repetitiva de chiclete aciona mecanismos cerebrais responsáveis pela memorização e provoca o aumento dos batimentos cardíacos. Com maior circulação de sangue, o cérebro recebe mais oxigênio e funciona melhor. Veja os outros benefícios associados às gomas de mascar e também os problemas:

Vantagens:
- Para algumas pessoas, a mastigação frequente aumenta até 25% a queima de calorias. O uso diário pode ajudar esses felizardos a evitar o ganho de 5 quilos em um ano.
- Com os movimentos da boca, o fluxo salivar torna-se maior e reduz-se a produção de ácidos que provocam cáries.
- O chiclete melhora o hálito.

Desvantagens:
- A mastigação estimula a produção de suco gástrico. Com o estômago vazio, isso favorece a formação de lesões na mucosa, como gastrites e úlceras.
- Os movimentos repetitivos sobrecarregam a musculatura e as articulações da mandíbula e podem causar problemas de dentição e bruxismo.


Veja, 27/3/2002

O Povo

Não posso deixar de concordar com tudo o que dizem do povo. É uma posição impopular, eu sei, mas o que fazer? É a hora da verdade. O povo que me perdoe, mas ele merece tudo que se tem dito dele. E muito mais.
As opiniões recentemente emitidas sobre o povo até foram tolerantes. Disseram, por exemplo, que o povo se comporta mal em grenais. Disseram que o povo é corrupto. Por um natural escrúpulo, não quiseram ir mais longe. Pois eu não tenho escrúpulo.
O povo se comporta mal em toda parte, não apenas no futebol. O povo tem péssimas maneiras. O povo se veste mal. Nao raro, cheira mal também. O povo faz xixi e cocô em escala industrial. Se não houvesse povo, não teríamos o problema ecológico. O povo não sabe comer. O povo tem um gosto deplorável. O povo é insensível. O povo é vulgar.
A chamada explosão demográfica é culpa exclusivamente do povo. O povo se reproduz numa proporção verdadeiramente suicida. O povo é promíscuo e sem-vergonha. A superpopulação nos grandes centros se deve ao povo. As lamentáveis favelas que tanto prejudicam nossa paisagem urbana foram inventadas pelo povo, que as mantém contra os preceitos da higiene e da estética.
Responda, sem meias palavras: haveria os problemas de trânsito se não fosse pelo povo? O povo é um estorvo.
É notória a incapacidade política do povo. O povo não sabe votar. Quando vota, invariavelmente vota em candidatos populares que, justamente por agradarem ao povo, não podem ser boa coisa.
O povo é pouco saudável. Há sabidamente, 95 por cento mais cáries dentárias entre o povo. O índice de morte por má nutrição entre o povo é assustador. O povo não se cuida. Estão sempre sendo atropelados. Isto quando não se matam entre si. O banditismo campeia entre o povo. O povo é ladrão. O povo é viciado. O povo é doido. O povo é imprevisível. O povo é um perigo.
O povo não tem a mínima cultura. Muitos nem sabem ler ou escrever. O povo não viaja, não se interessa por boa música ou literatura, não vai a museus. O povo não gosta de trabalho criativo, prefer empregos ignóbeis e aviltantes. Isto quando trabalha, pois há os que preferem o ócio contemplativo, embaixo de pontes. Se não fosse o povo nossa economia funcionaria como uma máquina. Todo mundo seria mais feliz sem o povo. O povo é deprimente. O povo deveria ser eliminado.


Luis Fernando Verissimo



Adoro o Luis Fernando. Tem os melhores textos de humor da literatura contemporânea. Nota 10!!!