sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Inquilinos

"Ninguém é responsável pelo funcionamento do mundo. Nenhum de nós precisa acordar cedo para acender as caldeiras e checar se a Terra está girando em torno do seu próprio eixo na velocidade apropriada e em torno do Sol, de modo a garantir a correta sucessão das estações. Como num prédio bem administrado, os serviços básicos do planeta são providenciados sem que se enxergue o síndico - e sem taxa de administração. Imagine se coubesse à humanidade, com sua conhecida tendência ao desleixo e à improvisação, manter a Terra na sua órbita e nos seus horários, ou se - coroando o mais delirante dos sonhos liberais - sua gerência fosse entregue a uma empresa privada, com poderes para remanejar os ventos e suprimir correntes marítimas, encurtar ou alongar dias e noites, e até mudar de galáxia, conforme as conveniências do mercado, e ainda por cima sujeita a decisões catastróficas, fraudes e falência.
É verdade que, mesmo sob o atual regime impessoal, o mundo apresenta falhas na distribuição dos seus benefícios, favorecendo alguns andares do prédio metafórico e martirizando outros, tudo devido ao que só pode ser chamado de incompetência administrativa. Mas a responsabilidade não é nossa. A infra-estrutura já estava pronta quando chegamos. Apesar de tentativas como a construção de grandes obras que afetam o clima e redistribuem as águas, há pouco que podemos fazer para alterar as regras do seu funcionamento.
Podemos, isto sim, é colaborar na manutenção da Terra. Todos os argumentos conservacionistas e ambientalistas teriam mais força se conseguissem nos convencer de que somos inquilinos do mundo. E que temos as mesmas obrigações de qualquer inquilino, inclusive a de prestar contas por cada arranhão no fim do contrato. A escatologia cristã deveria substituir o Salvador que virá pela segunda vez para nos julgar por um Proprietário que chegará para retomar o seu impovel. E o Juízo Final, por um cuidadoso inventário em que todos os estragos que fizemos no mundo seriam contabilizados e cobrados.
- Cadê a floresta que estava aqui? - perguntaria o Proprietário. - Valia uma fortuna.
E:
- Este rio não está como eu deixei...
E, depois de uma contagem minuciosa:
- Estão faltando cento e dezessete espécies.
A humanidade poderia tentar negociar. Apontar as benfeitorias - monumentos, parques, áreas férteis onde outrora existiam desertos - para compensar a devastação. O Proprietário não se impressionaria.
- Para que eu quero o Taj Mahal? Sete Quedas era muito mais bonita.
- E a Catedral de Chartres? Fomos nós que construímos. Aumentou o valor do terreno em...
- Fiquem com todas as catedrais, represas, cidades e shoppings, quero o mundo como eu o entreguei.
Não precisamos de uma mentalidade ecológica. Precisamos de uma mentalidade de locatários. E do terror da indenização."

Massa

É muito massa o livro O mundo é bárbaro - e o que nós temos a ver com isso, de Luis Fernando Verissimo. Cheio de seu humor crítico, Verissimo sabe como encaixar perfeitamente o drama atual de um mundo caótico em histórias cheias de humor. Olhem como começa:

"No filme
O Exterminador do Futuro, um schwarzenegger é mandado ao passado para matar a mãe de um líder revolucionário que está incomodando o governo. Matar o inimigo pela raiz, por assim dizer. A lógica é inatacável: se não nascer no passado, o problema não existirá no futuro. Muita gente já deve ter imaginado o que faria se tivesse o mesmo poder de voltar atrás para alterar um detalhe, refazer uma escolha, corrigir uma bobagem e mudar sua vida. Há quem diga que a primeira tarefa do hipotético exterminador deveria ser voltar 508 anos, se postar na praia e, à aproximação dos barcos de Cabral, começar a agitar os braços e gritar: 'Não! Não!'."





Adoooooooooooooooooooooro Verissimo...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cogito, ergo sum

É, faz tempo que não escrevo alguma coisa. Por mim, seria todo dia, mas o tempo, esse sim é que decide.

Mas na verdade é que eu estou estudando muito (ainda bem que as minhas férias estão chegando) e estou sendo importunada pelos professores sedentos de provas...

Mas nem sempre o que se pensa de tudo é tudo o que nós pensamos...

A cada momento que pensamos ou não, realizamos ou não cada pensamento, é um ato ou não que morre sem ao menos ser realizado. Porque a realidade é o cotidiano, o dia-a-dia, que deve ser encarada como uma rotina constante, sem máscaras ou ilusões. Viva e deixe os outros viverem também...