segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Poesia Matemática

Às folhas tantas 
Do livro matemático 
Um Quociente apaixonou-se 
Um dia 
Doidamente 
Por uma Incógnita. 
Olhou-a com seu olhar inumerável 
E viu-a, do Ápice à Base, 
Uma Figura Ímpar; 
Olhos rombóides, boca trapezóide, 
Corpo ortogonal, seios esferóides. 
Fez da sua 
Uma vida 
Paralela a dela 
Até que se encontraram 
No Infinito. 
"Quem és tu?" indagou ele 
Com ânsia radical. 
"Sou a soma dos quadrados dos catetos. 
Mas pode me chamar de Hipotenusa." 
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde 
A almas irmãs - Primos-entre-si. 
E assim se amaram 
Ao quadrado da velocidade da luz 
Numa sexta potenciação 
Traçando 
Ao sabor do momento 
E da paixão 
Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais. 
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas 
E os exegetas do Universo Finito. 
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. 
E, enfim, resolveram se casar 
Constituir um lar. 
Mais que um lar, 
Uma perpendicular. 
Convidaram para padrinhos 
O Poliedro e a Bissetriz. 
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro 
Sonhando com uma felicidade Integral 
E diferencial. 
E se casaram e tiveram uma secante e três cones 
Muito engraçadinhos 
E foram felizes 
Até aquele dia 
Em que tudo, afinal, 
Vira monotonia. 
Foi então que surgiu 
O Máximo Divisor Comum 
Freqüentador de Círculos Concêntricos. 
Viciosos. 
Ofereceu-lhe, a ela, 
Uma Grandeza Absoluta, 
E reduziu-a a um Denominador Comum. 
Ele, Quociente, percebeu 
Que com ela não formava mais 
Um Todo, Uma Unidade. 
Era o Triângulo, 
Tanto chamado amoroso. 
Desse problema ela era a fração 
Mais ordinária. 
Mas foi então que o Einstein descobriu a 
Relatividade 
E tudo que era expúrio passou a ser 
Moralidade 
Como, aliás, em qualquer 
Sociedade.






Do mestre, Millôr.

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